Quando a Infraestrutura é Culpada por Padrão: Um Estudo de Caso Real
- Rodrigo Motta

- 5 de jun.
- 2 min de leitura
No dia a dia de um profissional de infraestrutura de TI, é comum sermos os primeiros — e às vezes os únicos — a sermos responsabilizados por qualquer falha sistêmica. Lentidão? "Culpa da rede." Perda de conexão? "O servidor caiu." Dispositivo sem resposta? "Infraestrutura, com certeza." Mas será que é sempre assim?
Recentemente, enfrentei um cenário prático que ilustra bem essa pressão constante e a importância de registrar e comprovar cada análise com clareza técnica.
O Caso: Perda de Comunicação com um Sistema Crítico
A situação começou com relatos de falhas recorrentes de comunicação entre dispositivos móveis (coletores) e um sistema corporativo utilizado em operações essenciais. A principal queixa era a intermitência: os dispositivos perdiam conexão e não conseguiam mais se comunicar até que uma ação corretiva fosse aplicada.
A hipótese levantada inicialmente? Problemas na infraestrutura. Mais uma vez.
Por não conhecer a fundo a arquitetura do sistema em questão, iniciei a investigação analisando o gerenciador de impressão da aplicação, por considerar que poderia haver relação com o problema. No entanto, essa primeira análise estava fora do escopo real — e logo direcionei o foco para o que realmente importava: as portas de comunicação utilizadas pelos dispositivos.
Um detalhe importante chamou atenção: ao reiniciar o servidor, a comunicação voltava a funcionar temporariamente. Esse comportamento foi o ponto de virada na análise.
Diagnóstico Técnico
A análise mais aprofundada revelou que:
As portas específicas utilizadas pelos dispositivos estavam sendo bloqueadas, ou o serviço responsável por escutá-las deixava de responder.
A reinicialização forçava a reabertura dessas portas, restaurando a comunicação — mas apenas por tempo limitado.
A infraestrutura estava íntegra: sem perda de pacotes, sem falha de DNS, sem latência anormal.
Com base nesses dados, a conclusão foi clara: a falha estava na camada de aplicação ou na forma como ela gerenciava sessões persistentes e escuta de portas. E não na rede, no servidor ou na infraestrutura.
O Fardo da Prova
Este caso ilustra um desafio recorrente na área de infraestrutura: a necessidade constante de provar a inocência técnica antes mesmo que uma análise apropriada da aplicação seja feita.
Para nos proteger desse ciclo injusto, precisamos evoluir nossa postura:
Mapear previamente os sistemas e suas dependências, sempre que possível.
Documentar cada análise com dados objetivos, logs e evidências.
Padronizar processos de troubleshooting técnico.
Estabelecer uma ponte de comunicação com os times de sistemas, para entender melhor os bastidores das aplicações.
Estratégias para Prevenção
Monitore proativamente portas e serviços críticos utilizando ferramentas como Zabbix, PRTG, ou scripts automatizados.
Crie um histórico de incidentes, com lições aprendidas e medidas tomadas.
Automatize testes de conectividade periódicos entre dispositivos e sistemas chave.
Capacite sua equipe para análise detalhada de eventos no sistema operacional.
Integre a infraestrutura no ciclo de vida da aplicação, desde o planejamento até a sustentação.
Conclusão
Problemas complexos nem sempre têm causas óbvias — mas a infraestrutura não pode ser o bode expiatório por padrão. Em tempos de alta integração entre sistemas, o profissional de infraestrutura precisa ser mais do que o guardião dos servidores: precisa ser um investigador técnico com olhar crítico e provas em mãos.
Esse é o caminho para transformar percepção em reconhecimento — e responsabilização injusta em parceria técnica.

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