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O Peso de Ser Especialista — E o Direito de Errar

  • Foto do escritor: Rodrigo Motta
    Rodrigo Motta
  • 28 de jun.
  • 3 min de leitura

Introdução


Existe uma percepção muito comum no mercado de tecnologia: a de que profissionais considerados especialistas sabem tudo e não podem cometer erros.

Esse pensamento não só é equivocado, como também coloca uma pressão desumana sobre quem atua em ambientes complexos, onde pequenas mudanças podem ter impactos imprevistos.

Neste artigo, compartilho um incidente recente que vivi em produção. Mais do que relatar um problema técnico, quero deixar uma reflexão sobre como o julgamento costuma recair sobre quem erra — mesmo quando há experiência e boa intenção envolvidas.


O cenário


No ambiente em questão, usamos Active Directory integrado ao Azure AD Connect. Essa configuração sincroniza contas de usuário e também contas de computador, criando objetos híbridos no Azure AD que viabilizam:


Hybrid Azure AD Join — associação do dispositivo ao tenant do Azure AD

Single Sign-On com Office 365 — o Windows e o pacote Office reconhecem automaticamente credenciais

Aplicação de políticas de compliance e acesso condicional

Era um ambiente consolidado, funcionando há anos sem grandes incidentes.


A mudança planejada

No roadmap, estava prevista a implantação do Microsoft LAPS, e isso exigiu uma reorganização na estrutura de unidades organizacionais (OUs) para melhorar a governança das GPOs e preparar políticas de senha local.


O procedimento parecia simples:

🔹 Criar uma nova unidade organizacional

🔹 Mover todas as contas de computador

🔹 Vincular novamente as GPOs existentes

Essa é uma rotina normal na administração de Active Directory.


O problema inesperado

Poucos minutos depois da movimentação, começaram os chamados:

  • Falhas de login no Office 365

  • Perda de Single Sign-On

  • Mensagens informando que o dispositivo não estava mais registrado


A relação entre a movimentação e o problema não era evidente no início.

Durante a investigação, encontrei a causa raiz:


A nova unidade organizacional não estava incluída no escopo de sincronização do Azure AD Connect.

Quando a OU anterior ficou vazia, o Azure AD Connect entendeu que os dispositivos haviam sido removidos do ambiente e deletou automaticamente os objetos correspondentes no Azure AD.

Sem a conta sincronizada, o registro híbrido foi invalidado e a autenticação integrada foi comprometida.

Na prática, todos os computadores passaram a ser tratados como não gerenciados.


A lição aprendida

Esse episódio reforçou algo que muitas vezes passa despercebido:


O ambiente híbrido, apesar de existir há alguns anos, ainda é relativamente recente na prática operacional de muitas empresas.

A dependência entre a conta de computador sincronizada e o funcionamento do Office 365 não é bem documentada e tampouco sinalizada no console.

Nenhum alerta foi disparado durante a movimentação ou na exclusão automática dos objetos.

Mesmo profissionais experientes podem acabar descobrindo detalhes assim na prática.


Como corrigi


Movi imediatamente as contas de computador de volta para a unidade organizacional original.

Forcei uma nova sincronização com Azure AD Connect.

Os objetos foram recriados, restaurando o Hybrid Join e normalizando o acesso ao Office 365.


O julgamento inevitável


O ponto importante sensível desse episódio e quero muito compartilhar com voces não foi apenas técnico.

Foi também uma oportunidade de refletir sobre como, na nossa área, existe uma expectativa de que quem tem mais experiência sempre antecipe todos os impactos. Na prática, ambientes híbridos têm muitos detalhes e dependências que só se revelam no dia a dia, e até profissionais experientes podem ser surpreendidos.

Existe uma expectativa velada de que experiência significa infalibilidade. Mas isso não existe. Ambientes híbridos têm dezenas de dependências cruzadas que nenhum profissional domina completamente de forma intuitiva.

Quando algo dá errado, a reação imediata costuma ser:“Você deveria saber.”

Essa pressão desproporcional pode, inclusive, desestimular a transparência e a troca de conhecimento.


Boas práticas que tirei desse episódio


Validar sempre o escopo de sincronização no Azure AD Connect antes de movimentar objetos

Mapear todas as dependências de Hybrid Join e SSO antes de reorganizar OUs

Criar um checklist obrigatório para mudanças de estrutura organizacional

Confirmar o registro de dispositivos após a alteração

Documentar lições aprendidas e compartilhar com o time


Conclusão


Erros acontecem. E quando eles ocorrem, servem como lembrete de que experiência não elimina a possibilidade de falha — apenas nos dá mais ferramentas para corrigir rápido e aprender com profundidade.

Se você trabalha em ambientes híbridos, não se cobre perfeição. O importante é reconhecer, resolver e compartilhar, porque só assim todos evoluímos.


E você, já passou por algo parecido?Conte nos comentários. Vamos normalizar o aprendizado coletivo.

 
 
 

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